História sem fim


Xavier caminhava a passos lentos, preocupado com suas atividades escolares e com uma série de perguntas sem respostas que recebera por email. Já era fim de uma tarde outonal, onde os dias são monótonos quando ele chegou a frente da "Grande Casa".
A Grande casa na verdade nem era tão grande, era uma casa comum de banhos, uma das muitas espalhadas por sua cidade. Esta em especial tinha atrativos interessantes para jovens, como Xavier, que espreitavam por entre seus portões tentando enxergar as moças que ali trabalhavam.
Das grandes janelas, sempre embaçadas por conta dos vapores, era quase impossível uma visão nítida do que quer que fosse. Somente alguns vultos indistintos, que só serviam para atiçar ainda mais a imaginação fervilhante de adolescente.
Mal sabia ele, que também era observado, por grandes olhos verdes de dentro da casa, que se ocupavam a encher e esvaziar tinas. Seus olhos famintos pelo rapaz eram percebidos pelos frequentadores da casa e de seus patrões que a obrigavam a outros serviços mais servis e humilhantes.
Mas ela não se incomodava, e cumpria as tarefas com zelo e cuidado.
A garota não era bonita, e teria passado despercebida não fossem os imensos olhos verdes e ferozes, o brilho selvagem de duas esmeraldas, reluzindo no meio da sujeira e do fedor. Foi recolhida das ruas e levadas para ali, para cumprir as tarefas repugnantes que os empregados mais antigos recusavam.
Poucos sabiam de sua história, de sua origem mas atraia para si a atenção de qualquer homem quando desejasse. E no momento o homem que ela desejava era aquele estranho garoto, que ali passava todos os dias com olhar perdido, tentando descobrir os segredos não revelados da casa.
Ela entendia mas tinha medo desse desejo, pois só havia perversão à sua volta, não que percebesse totalmente o amplo significado da palavra.
Seu corpo sempre tremia de repugnância diante das cenas que presenciava, dos gritos, das risadas cruéis, do crepitar do fogo.
Mas, naquele dia, o arrepio foi diferente, ao se imaginar no lugar de uma das belas mocinhas da casa.
Xavier sempre se perguntava o que tanto lhe atraia ao passar por aquela casa e sempre chegava em casa como se tivesse esquecido algo ou alguém para trás. Ao entrar, ouviu uma conversa de seu pai sobre seu aniversário, dali a dois dias. Seu pai era açogueiro respeitado pela comunidade, viúvo, e tinha a fama de mulherengo.
Ainda dominado pelo torpor, mal prestou atenção à conversa, percebendo apenas do que se tratava. Respondeu laconicamente ao cumprimento do pai e dos que estavam na sala, e se retirou rapidamente dali, como receio de que alguém pudesse notar o fogo que havia em seus olhos, e do rubor intenso que tomava conta de sua face magra, sempre muito pálida.
O pai nada percebera e muito menos os demais. As tratativas eram mais interessantes e as moedas atraiam a atenção à negociata que estava sendo feita e com os valores pagos, só cabia ao pai, na data combinada levar seu filho. Muito satisfeito, despachou os aliciadores e caminhou para contar a novidade pois assim como foi para ele e seus irmãos, seria para seu único filho o ritual sagrado de entrada na vida adulta.

continua... (sabe se lá quando....rs)

Texto escrito em conjunto com ro_profana.